2004/10/17

Que Justiça? Que dignidade nos resta?


Isto é Justiça?
Há uns meses, encontrei uma senhora que me contou uma história de arrepiar. Tem um irmão, que é médico, preso há mais de sete anos, inocente! Já devia ter sido libertado, mas como tem escrito, para todas as Instituições, a reclamar da sua situação, por estar inocente, e também das atrocidades a que assiste, que incluem espancamentos bárbaros e gratuitos, e mortes “mal explicadas”, não o deixam sair. Agora é uma pessoa desesperada, destruída, amargurada, por estar inocente e também por não ver o fim do suplício, mesmo depois de cumprido o “seu” tempo! Esta senhora foi processada, e condenada a pena suspensa, por ter escrito para diversas instituições, incluindo o Presidente da República, acerca da situação do irmão. Bonita Democracia! É só (reino do) “demo”; não tem “cracia”! Aqui fica um poema, dos muitos que este “preso” escreveu na cadeia.
Poema:

“UM PAÍS EXÍGUO”

Sei dum país exíguo, entorpecido
Com mágoas que se ouvem da serra ao mar!
Seu povo há muito que está rendido
À férrea ditadura e convencido
Que nada vale a pena pra mudar…

Que triste e aviltante escravidão
Que a tantos parasitas do poder
Mais não sabe senão que obedecer?!
É a cega, surda e muda mansidão
Que a tão torpes interesses arreigados
Com dano e com maldade perpetrados
A tudo diz que “sim” e nunca “não”

Cansado de enganosas Liberdades
O povo chega a ter francas saudades
Dum passado modesto e respeitoso;
Carrega pelos campos e cidades
O peso das cruéis iniquidades
Do seu Estado de Direito vergonhoso.

Oh, condição servil, que amargas vidas!
Que mais podereis dar, assim perdidas
A quem já vos roubou até as emoções?
Este vazio, sonhos desfeitos, desilusões?...

País exíguo, mas pleno de hipocrisia
Com uma constituição inútil, viciada,
No direito e na razão mal mascarada
E da vontade popular à revelia.
Do que diz sobre igualdade é letra morta,
O que para o poder nada lhe importa!
Só o que conta é induzir a fantasia
Desta canhestra e falsa democracia
Em que ninguém poderá acreditar.
- Tudo mentiras que deixam muito a desejar!...

Sem uma administração pública decente
Que tenha uma fiscalização independente
Seu povo é explorado por caducos tribunais
Todos parados no tempo… medievais!
Nesta sórdida escravatura permanente
Será possível existir alguém contente?!
- Só quem gostar das corrupções policiais
Dos políticos sem escrúpulos, banais,
E da tirania dos poderes judiciais!...
Neste país devasso, mísero e atrasado
Os erros que se dizem do passado
Sempre foram da culpa do presente…

Albergados na podre soberania
Estão seus Governos, o parlamento e tribunais:
Poderes impunes com arcaica hegemonia
A precisarem de reformas radicais.
Ninguém põe termo à abusiva idiotia
Da opressão dos seus estatutos especiais!

Estão acima da Lei, que os diferencia,
E os seus vencimentos, acrescidos, elevados,
São ao erário público sacados.

Como se permite esta medíocre gente
Em cada ano ter férias constantemente?
Gozam dois meses seguidos, de cariz oficial;
O Natal, o Ano Novo, Páscoa e Carnaval;
Fazem as “pontes” faltam nos dias que entendem!
Não são afrontas que a quem trabalha ofendem?!
Exibem protagonismo nos seus modos teatrais,
Mas nada têm de artistas… só vaidades, nada mais!
País exíguo onde os direitos se vendem
E que, no fundo, tudo o que nele entristece
É não ter mais do que a justiça que merece…
L.J.N.S. nº 4 Prisão da Carregueira

Peço a divulgação desta história porque acho que, enquanto forem possíveis e persistirem este tipo de situações escabrosas, somos todos reféns da perfídia e não podemos ser felizes

Imaginem-se numa situação assim! E digam-me a sensação!