2004/12/26

Para que servem os políticos?

O artigo: “O resultado das Europeias e a Democracia” mereceu, até agora, os seguintes comentários (que vou comentar):
Rajodoas: Li atentamente o seu post porque aprecio o seu ponto de vista que aliás também tem defendido no “Alternativa” e com o qual também estou de acordo. No entanto julgo que o amigo faz a sua análise com base no número de eleitores inscritos, face às votações obtidas. Mas eu julgo que a CNE não utiliza esse critério; limita-se a apresentar os resultados com base apenas e só nos votos entradas nas urnas. Daí o facto de resultar, tal como muito bem analisa, que, independentemente da abstenção ser significativa ou não, os deputados das listas são sempre eleitos pelos partidos que disputam a governação.
Kuanto Baste: Não fiz as contas, mas deixo aqui este comentário:
«Luís Machado – Dos muitos conceitos que tem proferido, houve um que retive na memória: “Cada povo é o que é, mesmo antes de o ser.” Sempre achei esta frase extraordinária. Quer acrescentar algo...»
«Agostinho da Silva – Não, mas é evidente que os Portugueses só vão ser o que quiserem ser! No fundo, é simples, depende apenas de encararmos o futuro como o passado ou o passado como o futuro...»
hamy-pros-friends: parece que o voto dos portugueses não conta muito...
Para Rajodoas (Congeminações).
É isso mesmo. Apenas os votos entrados nas urnas é que são contados para calcular as percentagens atribuídas a cada partido. Mas é pior do que isso: Aplicando o método d´Hont (de ontem, diria eu... na verdade escreve-se: método d'Hondt), resulta esta coisa fantástica: um partido que tenha 30% dos votos, pode ter muito maior percentagem de deputados, e também pode acontecer o contrário: ter muito menor percentagem de deputados que de votos. Embora este "fenómeno não se possa atribuir, exactamente, ao método d'Hondt, mas mais à distribuição de mandatos pelos círculos eleitorais, sem ter em conta o respectivo número de eleitores. Mas há que corrigir estas distorções, a bem do rigor...
Talvez isto não tivesse a menor importância, se os eleitos se empenhassem, de facto, em representar “todos” os eleitores. Mas o facto é que eles, depois de eleitos, invocam ser maioria, não para respeitarem a vontade da maioria (que nem sabem o que seja), mas para imporem, arbitraria e prepotentemente, os seus desmandos, como se fossem legítimos.
Por isso há que alterar este estado de coisas, de modo a que eles não possam continuar a ignorar a vontade e os anseios da maioria; a falar em nosso nome, como se tivessem legitimidade para tal; a ignorar o agravamento da nossa situação económica e social, apenas porque o “tacho” deles continua garantido, em qualquer circunstância.
A Abstenção é a forma como os cidadãos os “punem”, pelo seu comportamento. Portanto, tem de ser devidamente valorizada, por todos os motivos e mais um: porque basta eles serem honestos e íntegros; serem competentes e eficientes; cumprirem, de facto, as suas obrigações, para que as pessoas votem neles.
Recordo que nas primeiras eleições após o 25 de Abril votaram mais de 90% da população; apenas porque (ainda) acreditavam neles; muito mais votarão, se eles “cumprirem”! Há ainda o facto de eles levarem o seu desplante ao ponto de se arvorarem o direito de “serem juízes em causa própria”, decidindo sobre os seus vencimentos e regalias; coisas que deviam ser decididas, directamente, pela população. Mas pode ser que haja aí alguém que me (nos) queira calar. Acho que este é o caminho para alterar, no melhor sentido, a nossa situação (que só pode ser resolvida pelos políticos, com o empenhamento, positivo dos políticos, ou seja: de quem detenha o poder), mas talvez me queiram provar o contrário, perguntando à população, se é verdade que estes deputados e estes políticos nos representam, como invocam e como deviam. Muito eu gostava de ver os resultados duma tal pergunta!
Para Kuanto Baste:
Neste assunto, o maior “defeito”, do povo português, é o seu civismo. O que se impõe escalpelizar é porque é que uma qualidade se transforma, assim, em defeito.
O que quero dizer é que o facto de as pessoas serem pacatas, pacíficas, cordatas, não “legitima” todo este tipo de abusos a que estamos habituados a assistir. As pessoas (uma população inteira, neste caso particular) não podem ser obrigadas a recorrer à violência, para verem respeitados os seus direitos e opiniões. Porque, com o descaramento desta gente, não vejo outra possibilidade de pôr cobro a este descalabro (ou melhor: vejo; estou a lutar por isso, porque odeio violências), que não seja muita contestação de rua, agitação, violência, no limite.
No século XXI isto não devia ser necessário; devia bastar que se levantassem dúvidas acerca do funcionamento do sistema político, para que as pessoas fossem chamadas a pronunciar-se sobre esse mesmo funcionamento (se é adequado, ou não), com as correspondentes consequências objectivas. Mas, no essencial, a generalidade dos nossos políticos (presidente incluído) têm concepções muito reaccionárias acerca da "capacidade de participação" da população, que querem manter num baixo nível de instrução e esclarecimento, para conseguirem "justificar" a sua reaccionarice.
Isto tudo para concluir que o que as pessoas são, ou querem ser, não tem tido a menor influência na “gestão” do País. As razões que levam a que os cidadãos não consigam responder eficientemente à situação, pondo-lhe cobro, tem que ver com várias coisas:
- As pessoas “respondem” não votando neles. Os políticos ignoram o respectivo significado, (culpa e desplante dos políticos).
- As pessoas denunciam e reclamam de todos as situações concretas (porque isto traduz-se em casos concretos, que afectam a nossa vida diária), mas são ignorados por todas as instituições, os seus direitos são-lhes negados (todos respondem, sistematicamente, “não”!), são silenciados, inclusive pela comunicação social. Acreditem que sei, com muitos exemplos, de que é que estou a falar!
- As pessoas não conseguem passar a uma nova fase (mais avançada), desta “luta”, porque têm sido, sistematicamente, enganadas e traídas, não confiam em ninguém (e é necessário alguma cooperação e associação de esforços). A falsidade e as mentiras dos políticos são os principais responsáveis por isto. Mas também é verdade que, alguém que consiga ser diferente, é bloqueado e silenciado pela comunicação social.
- Ninguém, do espectro político, nos ajuda, porque eles “estão noutra”. Isto prejudica-lhes os “tachos” e, além disso, a sua lógica não permite soluções democráticas que possibilitem a resolução dos nossos problemas, com a colaboração de todas as pessoas válidas e competentes, independentemente das respectivas opções políticas e filosóficas, como se impõe.
Mas isto tudo são condicionalismos, constatações de facto, com que temos, apenas, que contar. Na sociedade, nada é imutável. Os portugueses serão o que quiserem ser? Concordo inteiramente! Há alguma coisa que diga que nós não podemos, ou não devemos, participar nessa luta, da forma que acharmos mais conveniente? Não creio que haja, mas mesmo que houvesse, eu estou contra. É nessas coisas que gosto de “ser do contra”! Os portugueses serão aquilo que quiserem ser, se cada um “der o que tem” nessa luta.
O que quero mesmo é que os portugueses possam ser o que querem ser, esclarecidamente, com todos os dados. É esse o objectivo desta luta. Quem quer colaborar, participar, ajudar (para que sejamos todos ajudados)?
Para Hamy-pros-friends: O que se pretende é que passe a contar; não apenas os votos, mas principalmente a opinião e os desejos legítimos dos portugueses.