2004/12/07

Quem garante e verifica o funcionamento da Justiça?

Ontem, quando li o último artigo publicado no Muimentiroso, fiquei com a sensação de que, no livro de Carlos Cruz, li alusões a factos ainda mais “assustadores” do que os que estão publicados naquele “Blog”.
Fiz a consulta com mais atenção, fui procurar e encontrei. Na página 332, por exemplo: “A partir deste parágrafo, esta última carta contém matéria de especial sensibilidade. Nomes e tipos de crimes, desde droga a sexo e tráfico de influências, chantagem e extorsão. Fala ainda de imagens filmadas do inspector (…) em franca confraternização com a cúpula de um grupo que controla a informação; e com algumas pessoas importantes do mundo económico e da política”.
Na pág. 240: “um carro apreendido andava ao serviço particular dum agente da PJ; outro agente quis convencer um recluso a vender-lhe um BMW de alta gama, quando é obrigatória a “hasta pública”; numa busca, alguém “untou as mãos” com uma boa quantidade, em dinheiro, destruíram-se várias provas e o crime baixou de escalão; um “dealer” foi apanhado com uma razoável quantidade de droga, entregou-a à autoridade, que o deixou ir embora (sem a droga, é claro).
Na pág. 167: “Há guardas que sabem muito (ou quase tudo) sobre a noite, sobre “donos” do submundo – droga, jogo clandestino, violência.”
Na pág. 342: “Aprendi que a protecção de que gozam algumas pessoas, deste país, está na origem da necessidade de criar mercados paralelos, para sobreviver em determinadas actividades. (…). O que quero dizer é que neste “Estado da Nação” há falta de moral em muitas actividades legais.” (É bom saber que não sou só eu que vejo as coisas como elas são, que chamo as coisas pelos nomes, que recuso ceder às habituais mistificações com que se “desvirtua” a realidade, de forma a impedir a resolução dos problemas).
Na pág. 151: “Alguém da própria hierarquia da prisão disse que há reclusos que são “agentes infiltrados””
Isto tudo só para dizer duas coisas: (1) Tudo isto, para além de ser facilmente percebido olhando a nossa realidade (de ser do conhecimento comum), consta dum livro publicado. Coisas desta gravidade terão que ser, devidamente e claramente, investigadas, punidas; para que possamos recuperar a nossa auto estima.
(2) Nas prisões existem informadores do próprio sistema judicial. Portanto, todos os abusos, desvios, casos aberrantes, são do conhecimento do sistema. Não há desculpa (a não ser falaciosa, pérfida) para não haver soluções para os muitos problemas existentes. Não haveria, de qualquer modo, porque o sistema é que deve garantir o seu correcto funcionamento, não são os cidadãos que têm que viver indignados, com tudo isto!
Portanto, cá ficamos à espera (e a exigir) o devido “tratamento” criminal para estes factos (que nem sequer são novidade; é só mais uma achega). A exigir que a justiça deixe de poder aviltar e molestar os cidadãos inocentes! Voltaremos a esta e às outras questões relacionadas, as vezes que for preciso! É que aqui ninguém se chama Ana Gomes. Os compromissos são para valer! É por isso (e para isso) que este “blog” existe!