2005/01/12

Eleições. Por que fico em casa (01)!

Em “os possíveis motivos de Sampaio”, publicado neste “blog”, eu questionava as verdadeiras razões que levaram o Presidente a dissolver o parlamento.
Acrescentando a isso o facto de o Presidente ter dissolvido o parlamento, mas ter mantido e manter, ainda, o Procurador Geral da República em funções, apenas por exigência dos interesses inconfessáveis do pior tipo de criminalidade (ver artigo: “A perfídia do Procurador”).
Acrescentando o facto de tudo isto se passar com a complacência de todos os partidos com assento parlamentar.
Eis um motivo porque fico em casa (juntamente com aqueles que já há muito andam a dizer que não querem nada desta bandalheira, que temos direito a uma verdadeira democracia; juntamente com mais de 3 milhões de eleitores).
No artigo “O Apelo do Presidente (II)”, citando Jean Chrétien, escrevi: “A democracia, o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, a primazia do direito e da boa governação são a base em que assentam as sociedades prósperas”.
Façamos uma pequena resenha dos factos mais escandalosos, da nossa sociedade, conhecidos de todos, e comparemo-los com a aplicação destes princípios:
- Já falei, em vários artigos, no caso do Dr. L.J.N.S., preso nº 4 da Carregueira, na cadeia há mais de sete anos, inocente, (ver artigo: “Que justiça, que dignidade nos resta!”), que continua preso, apesar das inúmeras queixas e denúncias que tem feito, devido à passividade e arrivismo das instituições judiciais e governamentais.
- Já falei, em vários artigos, no caso de António de Jesus, preso há mais de 40 anos, apenas porque o sistema prisional quer assim.
- Já falei, em vários artigos, no caso dos familiares da pequena Joana, desaparecida no Algarve, que estão inocentes, sem qualquer sombra de dúvida, mas, mesmo assim, continuam presos e acusados de ter assassinado a criança; sabemos agora que até têm sido espancados (e que a polícia se prepara para acobertar, dizendo que foi “tentativa de suicídio”; isto é: a “desculpa do costume”).
- Já falei, em vários artigos, na perfídia infame que é o processo Casa Pia e da premeditação criminosa que tem presidido a todos os factos, tendenciosos, inventados ou falaciosamente divulgados pela comunicação social.
- Já falei, em vários artigos, no facto, conhecido de todos, de que a maior e mais protegida “rede de tráfico de droga” a actuar no país, integra altos responsáveis da Polícia Judiciária, do SIS e de vários outros altos cargos do aparelho do estado. Também é facto, conhecido de todos, que a maior parte da droga que circula nas cadeias é traficada pela Polícia Judiciária. Igualmente é facto, conhecido de todos, que existem (desde há muito tempo) muitas pessoas desesperadas, familiares de toxicodependentes, dispostas a denunciarem tudo o que sabem (e sabem muito), a entregarem os traficantes que conhecem, a quem a polícia não ouve, não liga, não dá importância, por imperativo de protecção dessas redes, em que participa. Dentro dessas instituições (como em toda a parte), todos sabem quem são os responsáveis. E estes são criminosos que, ainda por cima, têm chorudos vencimentos, que são pagos com o dinheiro de todos nós. Isto só pode acontecer e perdurar, com a cumplicidade dos políticos, aqueles a quem a população “entrega” o poder.
- Haveria mais uns milhares largos de exemplos concretos, colhidos da nossa vida real, aqueles de que os nossos políticos e responsáveis não falam, porque preferem falar “do sexo dos anjos”, porque assim podem dizer generalidades inócuas, de modo a melhor nos enganarem a todos. Mas vamos ficar por aqui, nesta enumeração, para não tornar demasiado longo este artigo.
Portanto, recapitulando:
- No dia das eleições vou ficar em casa, e não volto a votar, enquanto o Processo Casa Pia não for devidamente esclarecido e punidos exemplarmente todos os criminosos envolvidos: da comunicação social, da magistratura, do governo, do SIS, ou os que foram contratados para mentir e aceitaram fazê-lo;
- No dia das eleições vou ficar em casa, e não volto a votar, enquanto, neste país for possível haver inocentes na cadeia; enquanto for possível haver pessoas condenadas a dez anos de cadeia, por tentativa de homicídio, não provada, enquanto que assassinos confessos, cadastrados, são condenados a quatro anos de cadeia, por homicídio consumado.
- No dia das eleições vou ficar em casa, e não volto a votar, enquanto os direitos fundamentais forem negados a pessoas inocentes, por arbítrio do, sistema judicial, enquanto que altos criminosos, ligados ao tráfico de droga, são libertados em poucos dias, (devido a erro “premeditado” das instâncias judiciais).
- No dia das eleições vou ficar em casa, e não volto a votar, enquanto for possível o governo (qualquer que ele seja) apoiar uma guerra, com base em mentiras, contra a vontade manifesta da maioria da população portuguesa e mundial (sem se sentir, sequer, obrigado a prestar contas pela colaboração na mentira). Tudo isto com o apoio do Presidente que, quanto à resolução dos nossos problemas, quanto ao regular funcionamento das instituições; quanto a exercer, de facto, as suas funções pretende convencer-nos de que (nada pode fazer). Todos eles só podem é praticar os mais perversos actos.
É tudo isto que nos mantém aprisionados neste “limbo de indignidade”, que não nos permite viver em paz, nem ser felizes, nem progredir, nem ter direito a democracia, nem sequer ser cidadãos.
Eles ouvem-nos quanto a isto, que é o essencial? Obviamente que não! Então porque é que nós haveremos de ouvir os seus apelos ao voto?
Não voto nos partidos que se candidatam a ser governo, por tudo isto. Não voto nos outros, porque compactuam com tudo isto, com a desculpa de que “nada podem fazer por nós”, porque não são governo. Também, quem é que vota em partidos que nada podem fazer por nós? Eu não, com certeza!
O facto é que nas questões essenciais, eles estão todos do mesmo lado!
Não voto, como forma de manifestar a minha indignação, revolta, repulsa por tudo isto; pelo descalabro a que chegou a nossa situação económica e social, por causa de tudo isto!
É necessário, é urgente, fazer com que seja valorada a abstenção, com todas as consequências. É uma questão de elementar democracia e justiça.