2005/04/23

Previsões, Uma Resposta Merecida!

O amigo Bin, (das Faunas), perguntou-me, nos seus comentários, se:
- Eu acho que (sendo este Papa o último) a Igreja vai implodir
- Se, perante a perspectiva de que, para cumprir as profecias que dizem que este Papa será o último, os cardeais teriam que eleger uma pessoa assim para as confirmar, conheço o Bernardo, do Afixe, que é uma pessoa interessante para falar deste tipo de questões
- Se já li as profecias Maias.
Antes de mais peço desculpa ao Bin (e também, aproveitando a ocasião, ao Francis, que me estranhou por ter comentado no seu blog). Acontece-me, muitas vezes que acedo a vários blogs, leio os posts e os comentários, mas sem tempo para comentar. Por isso não deixo rasto. Por outro lado, já reparei que os acessos, a partir deste blog, raramente ficam registados nas estatísticas (sobretudo nas Faunas nunca vi essas referências, mesmo em ocasiões em que acedi mais do que uma vez na mesma altura). Muito bem, apresentadas as desculpas, vamos às devidas respostas.
Não é assunto sobre o qual me sinta à vontade para escrever de improviso. Daí não ter respondido há mais tempo ao Bin. Comecemos pelas perguntas simples:
- Não conheço o Bernardo, do Afixe, mas tenho pena!
- Não li as profecias Maias (nem sabia que existiam), até porque a minha relação com as profecias não é “pacífica”. Só posso explicar isto relembrando a história de Édipo (e a respectiva moral):
Como todos sabem, quando Édipo nasceu, o seu pai chamou o adivinho, para saber o destino da criança. Como o adivinho lhe disse que o filho o mataria (a ele, seu pai) e casaria com a própria mãe, decidiu mandar eliminar a criança, para “resolver o problema”. Como convém, nestas histórias, faltou a coragem ao criado encarregado de executar a “sentença” e assim se criaram as condições para que se cumprisse o “adivinhado”. Claro que isto é apenas uma história mitológica, mas que encerra uma lição que me faz todo o sentido; que é o facto de ser o “conhecimento” das profecias que promove a confirmação das mesmas… Assim como uma espécie de “pescadinha de rabo na boca”. Eu acho que a vida das pessoas pode ter objectivos bem sublimes, que dispensam “profecias” e para cujos as “artes de adivinhação” do futuro não têm qualquer “utilidade”.
A propósito, não resisto a contar aqui uma história, que posso atestar ser bem real, porque me foi contada na primeira pessoa.
Uma colega minha, consultava, regularmente, uma cartomante. A dada altura, a cartomante começou a dizer-lhe, insistentemente, que havia alguém próximo dela (minha colega) muito doente, quase a morrer, que precisava de cuidados médicos, especializados, urgentes. A minha colega achou que se tratava dum homem, ainda jovem, com quem mantinha um “romance”. Vai daí falou, várias vezes, com ele, perguntando se se sentia bem, se não estava doente, que talvez fosse melhor ir ao médico… A ponto de ele se incomodar e zangar, com tal insistência daquele tipo de conversa. O tempo foi passando e, alguns meses depois, a cartomante morreu, quase de repente (já nem sei bem com que doença, julgo que era cancro…). Parece uma anedota, mas isto é uma história verdadeira. Ou seja a doença que a cartomante “via” era a sua própria doença, mas isso não lhe serviu de nada.
O que quero dizer com isto é que o facto de as pessoas saberem que alguma coisa vai acontecer de nada lhes serve, se não puderem actuar, positivamente, sobre “a previsão”. Na generalidade dos casos, este tipo de coisas são apresentadas como inelutáveis. Pois se é assim não me interessa, para nada saber o futuro. Se vierem a acontecer problemas graves “inelutáveis” escuso de sofrer duas vezes; basta sofrer quando eles acontecerem; se acontecerem coisas boas, óptimo! Para sermos felizes a ocasião é sempre boa; estamos sempre a tempo.
É por tudo isto que me interessam muito pouco as profecias, ou quaisquer outras artes de adivinhação.
Só me interessei pelas profecias de Nostradamus devido ao impacto que têm e à quantidade de coisas fantásticas e terríveis que se ouvem a propósito. E como, também nisto, gosto de “ver para crer”, decidi me inteirar acerca do assunto e não dei o tempo por mal empregado. Mas daí a criar curiosidade obsessiva acerca deste tipo de coisas, vai uma grande distância. Até porque eu tenho outros “interesses” e não creio que as “profecias” me possam ajudar; pelo contrário. A maioria das pessoas que vejo “apaixonadas” por estes assuntos, revelam um primarismo de pensamento e de actividade socialmente empenhada que… parecem querer fazer “cumprir” as profecias pela via mais negativa possível.
Os próprios estudiosos de Nostradamus dizem que as suas profecias só se podem identificar depois de os factos acontecerem. Se é assim para que precisamos de profecias? Para entreter os papalvos? Agradeço, mas dispenso!
É verdade que o próprio Nostradamus parece querer avisar a humanidade de que o caminho que estamos a seguir é errado e tem de ser emendado. Mas se quem deve ouvir não ouve (como o próprio reconhece), não é a mim que o aviso interessa, porque eu até nem estou de acordo com a forma como o mundo e a humanidade estão a ser destruídos…
É verdade que Nostradamus previu (dizem), com precisão, alguns acontecimentos ocorridos no seu tempo e não só. Mas quanto a actuar de modo a que esses males fossem evitados, nada pôde (ou soube) fazer. Ou seja, o facto de ser profeta, não lhe deu outras capacidades (ou competências), mais úteis à humanidade. Portanto, se a minha “missão” for outra, não me vou embrenhar em coisas que não me interessam, de que nada sei, que só me vão fazer perder tempo e desviar energias que me (nos) podem ser mais úteis noutros aspectos…
Por tudo isto o meu pouco interesse em profecias.
Ainda assim há algumas coincidências que gostaria de assinalar aqui.
Já o disse e repito: se recuperarmos os textos das Farpas, escritos por Eça de Queirós, verificamos que eles parecem escritos ontem, sobre acontecimentos actuais. Ainda há pouco no blog: "Crónicas do Planalto", num artigo intitulado “Regionalização e Desenvolvimento”, se fazia a analogia entre o que escrevia Eça, em 1872, a a situação actual. Vistas as coisas por este prisma, até se pode falar em “profecias”. Mas eu acho que isto só nos devia fazer repensar a nossa própria eficiência; a eficiência da nossa luta a forma de actuar que faça jus à nossa condição de cidadãos e às nossas boas intenções.
Vistas as coisas desta forma mais ampla, também eu (como muitas outras pessoas) já tenho feito “profecias” que se confirmam na íntegra. Não é difícil; basta ser-se intelectualmente honesto e avaliar correctamente, todos os dados. Embora algumas verdades que só alguns vêem sejam mesmo coisa inexplicável, assim como que um “flash”, que nem nós sabemos como surgiu…
E lá me desviei eu, muitos quilómetros, do objectivo deste artigo. Mas não foi por mal; é que eu sou mesmo assim… Estas coisas é que me interessam.
Quanto ao que vai acontecer à igreja, em vista da eleição do novo Papa, é difícil dizer. No entanto, eu acho que não se tratará de “implodir”; acho que será mais mirrar e perder influência (e capacidade financeira também). O resto virá por acréscimo…
Ou talvez não, talvez não seja assim. O mundo está sempre a mudar e, às vezes, acontecem convulsões inesperadas (que se formam de pequenos anacronismos e respectivas reacções populares, que se vão acumulando) Numa palavra: tudo pode acontecer e não vou ser eu que arrisco um palpite.
Mas não vale a pena preocuparmo-nos com isso antes de tempo. Temos muito que fazer entretanto, porque a nossa missão ninguém mais a desempenha… O mundo é mesmo assim...