2005/05/08

Responsabilizar Quem e por quê (2)?

O meu comentário, transcrito em “Responsabilizar Quem e por quê?”, mereceu um resposta que não vou transcrever aqui, por muitos e vários motivos, dos quais o facto de repetir “ideias feitas”, por aqueles que colonizam a nossa forma de pensar colectiva, que são propagandeadas, permanentemente pelos OCS, não é o menor, nem o menos importante.
Vou apenas sublinhar algumas passagens; as que me parecem conter “o cerne” da questão. Essas passagens são:
(1) Mas enquanto a discordância é uma coisa saudável, o insulto já não o é. E a sua postura já começa a roçar a falta de respeito, especialmente porque, como já disse, detesto descontextualizações e más interpretações daquilo que digo.
(2) Tal como já lhe disse, sou contra a desresponsabilização em geral, razão pela qual nunca me escondo atrás de pseudónimos e reconheço sempre os erros que cometo. E é por isso que defendo um sistema que promova a responsabilização de TODOS.
(3) O que eu penso é que dar peso parlamentar à abstenção poderá motivar alguns eleitores a, por mera preguiça, não se darem ao trabalho de ir votar, desresponsabilizando-se assim da tomada de decisões acerca do nosso futuro comum, só porque a abstenção é o caminho mais fácil. No fundo, pode-se intervir no sistema pela positiva e pela negativa
(4) Disto tudo, e admitindo as suas “boas intenções”, só posso concluir que temos opiniões muito diferentes, e que você não é democrata o suficiente para aceitar a minha e dar o assunto por encerrado.
(5) Vou-lhe mesmo contar algo que ainda não tinha divulgado online: em 2003, quando detectei as falhas que exponho no livro “Reciclemos o sistema eleitoral!”, falei com um advogado para esclarecer se era possível referendar o sistema político português. Ele pegou nos seus livros de direito e disse-me que não. Isto porque a alínea d) do artigo 3º da Lei Orgânica do Regime do Referendo exclui do âmbito do referendo “as matérias previstas no artigo 164º da Constituição (…)". E o que é que diz esse artigo da Constituição? Diz que: “é da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias: a) Eleições dos titulares dos órgãos de soberania; (…)"…
(6) Mas eu não me ando para aí a lamentar disso e a culpar os OCS por ignorarem o assunto. Neste país existe liberdade de expressão, de imprensa e de empresa. Por isso, se quiser que o seu ponto de vista seja difundido, pode expressá-lo na Internet (como já o faz), em fóruns radiofónicos, em cartas aos jornais, fazendo acções de protesto criativas que despertem a curiosidade das televisões. Pode ainda criar o seu próprio órgão de comunicação e nele transmitir aos outros o seu ideário!
Dou-lhe o meu exemplo: quando detectei as falhas no sistema eleitoral, decidi publicar um livro, apresentá-lo, colocá-lo nas livrarias à consignação, divulgar a sua existência junto dos OCS, enviá-lo a pessoas que poderiam fazer algo para atacar o problema (deputados, presidente da República, STAPE, CNE).
Depois, criei um blog para dar conta do que tinha descoberto e, sempre que surgiu a oportunidade, comentei o caso noutros blogs. Partilhei a informação da melhor forma que pude. Por isso sei que hoje o assunto é do conhecimento de pessoas de vários quadrantes políticos e que a informação do livro continua a circular e a originar debates.Por isso, se quer que a sua ideia seja debatida, seja criativo, proactivo, fale com outras pessoas.”

Claro que eu não podia inibir-me do direito de dizer umas quantas coisas acerca disto. Acredite que usarei de comedimento. Até porque existem aí pequenas coisas (em que tenta aproveitar o que julga serem as minhas fragilidades) que revelam as suas susceptibilidades, o que me permitiria adoptar uma atitude demolidora. Mas eu não quero isso. O que importa combater e denunciar são as ideias (já bem nossas conhecidas) e não as pessoas.
Contudo, não há nenhuma espécie de deferência, ou respeito, ou civismo que me imponha a aceitação de ideias que considero profundamente erradas e perniciosas. Relembro que, a meu ver, a exclusão dos direitos e opiniões e motivos dos cidadãos que se abstêm é um acto nazi, que permite e promove a degradação da situação que vivemos, bem como a total ausência de democracia real.
O mesmo não se pode dizer deste nosso amigo porque:
(1) A discordância é uma coisa saudável, desde que não discordem dele.
(2) O facto de eu usar um pseudónimo, define a qualidade e validade das ideias que defendo; o que só pode querer dizer que as ideias dele são mais valiosas, não pelo valor que têm, mas porque é uma pessoa responsável, do seu próprio ponto de vista, claro, ao contrário de mim, que até uso um pseudónimo. Este, aliás, é o mesmo tipo de argumento que usa para insultar os cidadãos que se abstêm, conjecturando sobre as suas motivações. Sim porque as motivações dos outros não interessam nada; o que importa é a ideia que este nosso “amigo” faz delas, as outras motivações, motivações mais nobres e pertinentes, ele não compreende e, mesmo que existam, estão no seu “index”, como se pode comprovar em (3). Está tudo bem para ele, para as suas aspirações, portanto também tem de estar bem para os outros.
(5 e 6) A seguir vêm os seus exemplos e os conselhos, claro! Sim porque pessoas que usam pseudónimos, são irresponsáveis, não percebem nada de nada, por isso há que lhes ensinar como é que as coisas funcionam, dar-lhes conselhos, porque não sabem pensar pela sua cabeça (e se sabem, não devem)…
No meio dos conselhos, vem a defesa da actual situação e de todos os seus crimes e desmandos. Vem a desculpabilização dos crimes cometidos, todos os dias, através dos OCS e pelos OCS; vem a “beatificação” da censura exercida contra todas as ideias diferentes, por mais generalizadas que sejam, entre a população; vem a tentativa de impor a aceitação da “normalidade e candura” disto tudo, mesmo sendo nós, a maioria da população a pagar; e mesmo sabendo-se do enorme peso das ideias discordantes (para já não falar da sua justeza).
Concluindo: não adianta discutir ideias com pessoas que, ao invés de avaliarem, ou sequer considerarem a sua validade democrática, nos pretendem impingir que, se não conseguimos furar o cerco, infame, dos OCS, se fazemos parte da grande maioria dos excluídos, vítimas deste sistema infame, apesar de sabermos como resolver os nossos problemas colectivos, devemos ficar calados, não andarmos por aí “a lamentar isso e a culpar os OCS por ignorarem o assunto”.
Pois claro: os OCS? Não são culpados de nada! Cometem todo o tipo de crimes, mas fazem muito bem, porque neste país existe liberdade de…. Até existe liberdade para máfias criminosas, com a cumplicidade dos políticos, que é o que nos tem destruído e é o que impede todas as outras liberdades; as que deviam existir. Escândalos e infâmias para denunciar? Os OCS ficam calados e fazem muito bem, porque existe liberdade de... (excepto para as vítimas).
Quanto ao facto de a valoração da abstenção ser uma medida de elementar democracia; quanto ao facto de o actual sistema ser absolutamente nazi, nesta matéria, nada! Nem uma palavra. Basta “a gente” projectar nos outros a nossa tacanhez e insultá-los, atribuindo-lhes as motivações mesquinhas que conseguimos compreender, para tudo passar a ser "legítimo".
O pior perigo, desta gente é não perceberem que Hitler se instalou no poder legitimamente, mas nunca referendou as suas opções, nem se valorou a abstenção, altíssima, nas respectivas eleições. Depois, com o poder na mão, pôde fazer tudo o que quis, usando a abusando da demagogia, da mentira e da propaganda em todos os meios de comunicação, tal e qual como fazem os OCS, actualmente.
Ao comentário respectivo, respondi com este:
“Para não chatear mais, mas para que nos conheçamos o suficiente, só quero dizer que, para mim, leis que não prestam, não prestam e pronto. Nunca ninguém me deixou pronunciar sobre quem deve legislar sobre o sistema eleitoral… As minhas propostas são “fora da lei"? Que bom! Isso é promissor.
Não quero saber de leis, nem de regras constitucionais infames. Além disso, as regras constitucionais mudam, para pior, por pressão do grande capital, sempre que os políticos querem. As regras constitucionais que são boas para os cidadãos nunca se aplicam, neste país, portanto também não espere que eu me conforme com as disposições constitucionais que considero nazis. Neste tipo de coisas tenho muito orgulho em ser “fora da lei"; até porque, quanto a leis destas, prefiro (e quero) estar “fora".
Sabe? É que, para mim, este tipo de coisas só muda quando a pressão for tal que os políticos tenham de nos ouvir, mesmo em relação (e contra, se necessário for) as leis e disposições vigentes, que os protegem e que eles fizeram (é normal que não queiram desfazê-las).”

Disse e repito, em relação a leis e regras nazis, sou “fora da lei”, sim, com muito orgulho. Não haverá insulto nem insinuação mesquinha que me demova.
Enquanto vivermos nesta situação, desastrosa, protegida por lei (e pela Constituição) serei “fora da lei”. Enquanto, nos OCS, se puderem cometer todo o tipo de crimes, mesmos os mais aberrantes, ao serviço de máfias tenebrosas e se censurarem as opiniões maioritárias entre os cidadãos, hei-de denunciar os OCS e a sua infâmia, que já permitiu cometer tantos e tão horrendos crimes. Podem mudar o mau pseudónimo para: “foradalei”; respondo por isso.
Só há uma maneira de me demover: haver, realmente, democracia, liberdade de expressão; igualdade de direitos, para todas as opiniões diferentes, no acesso aos OCS; acabar-se com esta situação infame e com as situações aviltantes correspondentes (nóa até sabemos como resolver os problemas e é isso que nos interessa). São muitas as situações aviltantes. Aqui têm sido denunciadas algumas que continuam por resolver, mas existem muitas mais. Se nem as que conhecemos são solucionadas, como é que pudemos acreditar na bondade e “legitimidade” dum sistema assim?
Liberdade sim, mas para todos! Vigarice não! O que temos agora é vigarice criminosa.