2005/09/28

As Presidenciais e a Esquerda (II)

No post “As Presidenciais e a Esquerda”, o amigo Charago diz que vota em Louçã, porque lhe parece “um político sério, corajoso e vertical”.
Para não particularizar a questão, vou explicar porque é que não voto nalgum outro candidato (excluindo Cavaco, Soares e Alegre, a quem nunca daria o meu voto).
Quanto às questões gerais, coloco todas as outras candidaturas no mesmo saco, porque se justifica. De facto, eu, por índole e por opção, não votaria, nunca, numa candidatura que o próprio candidato não leva a sério. Além disso, quanto a Louçã e Jerónimo, ambos já reconheceram, implícita ou explicitamente, que vão votar Soares, na segunda volta. E eu já aqui expliquei que, se tivesse que escolher entre Cavaco e Soares, o mal menor, votaria Cavaco e não votaria Soares.
Mas isso não quer dizer que não sinta uma enorme revolta quanto ao facto de toda esta gente, que se diz de esquerda, estar a "estender a passadeira vermelha" a Cavaco, pretextando exactamente o contrário. Não gosto que me vigarizem! Não gosto de ver vigarizar a nossa população. Não gosto que sejamos vítimas, todos, destas cabalas e destas maquinações conspirativas.
Neste momento, se a população procurar um motivo válido para escolher um candidato, não tem outra escolha, senão Cavaco Silva, por menos válido que seja o motivo da escolha. Os outros motivos são menos válidos, ainda. A outra opção é não votar, que é o que vai fazer a esmagadora maioria, mais de 50%, seguramente, como sempre fez.
Ou seja: prepara-se uma palhaçada semelhante às últimas eleições presidenciais, em França, onde a esquerda optou, por culpa própria, em votar no candidato da direita…
Ninguém, no seu juízo perfeito, acredita que algum destes outros candidatos (a que me refiro) acredite que pode ganhar as eleições, ou fazer a menor diferença (a não ser prejudicar os superiores interesses do país e da democracia).
Ninguém, no seu juízo perfeito, acredita que algum destes candidatos saberia o que fazer com o cargo se, eventualmente, ganhasse as eleições.
Candidatos com este perfil não têm hipóteses mínimas de mobilizar a população para votar, porque, nem que seja por instinto, os cidadãos não votam em quem não acredita na sua vitória, nem sequer quer ganhar a eleição. Se eles dizem o contrário, ou são burros, ou são hipócritas e estão a mentir.
Candidatos com estes perfis não contribuem para credibilizar a democracia e estão, objectivamente, a favorecer Cavaco.
O amigo Charago diz que considera Louçã “um político sério corajoso e vertical”. Eu não concordo com nada disso. E a maioria da população portuguesa também não.
Porque é que eu não concordo? Porque só se pode avaliar Louçã pelas suas palavras; e, de conversa, todos eles são muito bons. O pior é os actos, inclusive com Louçã (ou com qualquer dos outros candidatos já anunciados).
Aliás, para falar com sinceridade, acho que algumas das posições de Louçã seguem exactamente a mesma lógica das “posições” da restante oposição, mas revelam, nalguns casos, total ausência de sentido de estado. Louçã fala de alguns assuntos de modo a deixar perceber total irresponsabilidade, de quem se coloca na posição, cómoda, de só ter que estar contra, não precisar de se preocupar com soluções eficientes e exequíveis. Aquilo a que, vulgarmente, se chama “demagogia”. Essa postura transparece para a opinião pública e condiciona a credibilidade das pessoas, bem como a sua “adequabilidade” para se candidatarem a cargos desta natureza.
Pior! Esta constatação deixa transparecer que, se por um acaso, improvável e fortuito, uma pessoa assim fosse eleita, os perigos que adviriam para a sociedade, provenientes do facto de não saber o que fazer com o cargo, seriam muito maiores, porque aparece sempre alguém se aproveita para cometer todo o tipo de desmandos, com todo o à-vontade, até porque não tem que responder por eles…
Louçã, como qualquer outro, tem, sem dúvida, o direito de se candidatar, no actual enquadramento legal, com que eu não concordo.
Acho que os candidatos à Presidência da República (e também ao cargo de Primeiro Ministro, entre outros) deveriam ser obrigados a declarar a sua não filiação em partidos ou outras organizações com filosofia específica e disciplina de grupo, como é o caso da maçonaria, como condição para se poderem candidatar. Estas organizações (partidos e maçonaria) congregam, sempre, um reduzido número de cidadãos, pelo que a escolha dos respectivos membros excluiu os critérios e opinião da maioria das pessoas, sempre. Por isso também o elevado número de abstenções, nestas eleições. Sendo estes cargos de âmbito nacional, para representar TODOS os cidadãos, acho que essa condição prévia seria de primordial importância para se garantir a eleição de um presidente que possa, realmente, ser o “Presidente de todos os Portugueses”.
Estes candidatos (a que me refiro neste artigo) participam nesta campanha (para a Presidência), com a única finalidade de “divulgar” os respectivos partidos e “marcar posição” expressa em número de votantes (que são sempre em percentagens ridículas). Na verdade, desvirtuando, assim, as eleições para a presidência, aproveitando-se delas para fins diversos dos seus objectivos específicos, apenas conseguem comprometer, ainda mais, o prestígio dos políticos e, por arrastamento, os respectivos partidos. Mas eles são cegos e surdos, vivem noutra dimensão, não vêem nem percebem nada disso.
Aliás, se a memória me não falha, o único candidato à Presidência que conseguiu ser eleito, à primeira volta; portanto com uma percentagem mais confortável de votos espontâneos, foi o General Ramalho Eanes, que foi também a única candidatura realmente apartidária que houve, até hoje…
Por isso acho que estas candidaturas se inserem num folclore, em que toda esta gente se viciou, mas que resulta em mais e maiores entraves à resolução dos nossos problemas.
Estas candidaturas aparecem porque os partidos, no essencial, são todos iguais e igualmente sectários.
Para mim, um partido que preze o seu prestígio, deve assumir, de forma construtiva, o seu papel e lugar na sociedade, procurando contribuir para a resolução dos problemas.
Se as candidaturas dos próprios partidos não podem contribuir para isso, devem empenhar-se em encontrar e apoiar candidatos dignos, capazes de mobilizar a população, verdadeiros líderes, que possam contribuir decisivamente para a resolução dos problemas. Sim porque os verdadeiros líderes existem. Se não existem nos partidos, certamente que existirão fora deles.
Mas os partidos não querem a resolução dos nossos problemas; dos problemas da sociedade, com a participação dos cidadãos. As suas “ambições” quedam-se pelos tachitos, pessoais, e esses estão garantidos…
Além disso, todos sabem que considero a valoração da abstenção como uma medida de elementar democracia, capaz de introduzir alguma moralização nos desmandos dos políticos, para além de ser um bom antídoto contra as mentiras eleitorais.
E agora digam-me! Se eu posso lutar por esse objectivo, porque é que um qualquer partido não pode, independentemente da sua dimensão? Porque eles não querem aceitar o veredicto dos cidadãos e reconhecer a “sua verdadeira dimensão”. Preferem usar as dificuldades da sociedade como forma de chantagem e retaliação, por não receberem mais votos, sem se preocuparem com o facto de merecerem, ou não, esses votos. Até usam isso como desculpa para reivindicaram o direito de serem ineficientes (nunca têm nada a ver com nada).
Aqui, os partidos, todos os partidos, descem ao nível mais baixo da dignidade e idoneidade social. Vocês tenham paciência, mas eu tinha que dizer isto, porque as coisas óbvias são para se dizerem.
A Louçã, especificamente, eu já escrevi acerca deste assunto. Mas Louçã, como todos os outros, o que quer, na verdade, é a eleição de Cavaco Silva. Não quer democracia, não sabe lidar com a democracia, não aceita o “veredicto” da população, não sabe nem quer saber, ocupar o seu lugar e cooperar com a maioria para ajudar a resolver os problemas do país. (Idem para os restantes).
É aqui, verdadeiramente, que está a barreira entre os democratas e os que o não são. E os partidos não são democratas. Por isso a “esquerda” que na realidade não existe, aparece tão “dividida”, mas unida num objectivo comum: o de “estender a passadeira vermelha” a Cavaco Silva (ou então eleger um indivíduo como Soares, à semelhança do que fez no passado).
Aliás, isto é comportamento típico de quem não sabe como resolver os problemas da sociedade. Procuram ter, sempre, uma desculpa. A eleição de Cavaco Silva é uma boa desculpa.
A resolução dos problemas do País não interessa nada. Entre esse objectivo (que é o que a maioria da população quer) e a solidariedade entre os políticos, para que mantenham o domínio absoluto da sociedade e assim a destruam, eles preferem se conluiar com os restantes partidos, contra nós.
As pretensas divergências são “fogo de vista”. Aliás, já alguma vez resultou alguma vantagem para o progresso do país e resolução dos seus problemas fundamentais, das posições assumidas por Louça? (Idem para todos os outros). Olhem à vossa volta e concluam.
Se os partidos têm, realmente, os objectivos de contribuir par resolver os nossos problemas, então os respectivos líderes deviam ir, todos, cavar batatas, porque são uns incompetentes; só conseguem exactamente o contrário.
Este texto destina-se a explicar os meus motivos para não votar, não se destina a influenciar as opções de quem quer que seja.