2005/09/05

Livros e Leituras!

Mudando de assunto!
Vai tempo em que “devorava” todos os livros que me caíam nas mãos. Não foi bem “todos” os livros. Lembro-me de dois que não consegui ler, nessa época. Um por ser demasiado “pesado”, maçudo, o conteúdo não me despertou interesse suficiente; e o outro por ser demasiado fútil e sem conteúdo. Dir-se-ia, por estes exemplos, que não gosto de extremos…
Nessa época, queixava-me eu de falta de tempo para ler e de falta de livros, porque não tinha dinheiro para comprá-los. Depois, atravessei uma fase em que era difícil encontrar um livro que me agradasse.
Em boa verdade essa fase ainda dura, mas evoluiu!
Os livros tiveram um enorme papel na minha formação e, por isso me arrepia quando encontro gente que faz alarde da sua ignorância e até achincalham quem goste de livros, como forma de retaliação, pela própria cretinice. Conheço alguns casos...
Por isso eu recomendo, a pais e avós, que ofereçam livros às crianças, desde tenra idade, mesmo que seja para brincar e estragar. Quando os pais são do estilo que acabo de referir, a recomendação, para os avós e outros parentes, é a dobrar, porque é crime reproduzir um tão mesquinho nível de tacanhez...
Nessa minha fase, que estava a descrever, “zanguei-me” com muitos escritores portugueses e alguns estrangeiros, porque todos diziam o mesmo e da mesma maneira. Era como se nos remetessem para um raciocínio em círculos, num labirinto, de que não há saída.
Então passei a preferir os ensaios. Mas, como vocês sabem, até nessa género a amplitude dos temas, e das abordagens, se esgota … antes de se encontrar a saída. Por essa altura dava eu preferência, também, às obras baseadas em factos reais…
Houve um tempo em que me tomei de curiosidade pelo Memorial, que li, com agrado, embora não seja propriamente fã de estilos em que se misturam e baralham épocas e factos históricos, sacrificando a objectividade do conhecimento do passado aos caprichos romanescos. Mas agradou-me a obra.
No entanto, caí na asneira de comprar outros livros do mesmo autor, que não consegui (ainda?) ler. Somando um ou outro desengano semelhante, com outros autores, o resultado foi deixar de comprar autores portugueses, até porque as alternativas são piores e não melhores. Muita conversa, na maioria fútil ou preconceituosa, mas sem conteúdo intelectualmente motivador, nobre e evoluído!
Nem sei porque é que estou aqui a falar disto… Cada um que interprete como quiser.
O facto é que, em cada reedição da “feira do Livro” conseguia sempre gastar muito dinheiro, frequentemente mais do tencionava. Via de regra, “vingava-me” nos saldos. E consegui, às vezes com algum descrédito, comprar livros bem cuja leitura se revelou compensadora. Se calhar perdi uma ou outra coisas mais interessante, por causa do trauma que me fez “zangar” com os autores portugueses…
Este ano foi excepção! Consegui ir, várias vezes, à feira do livro, sem comprar algo digno de registo, ou de atenção específica. As Editoras acham que têm o direito de exercer a sua quota-parte na censura das ideias existentes e, com isso, restringem o leque de escolhas de tal maneira que a opção é não comprar e não ler…
Por causa deste meu enfado, decidi dar atenção a livros que comprara, noutros tempos e que estavam guardados para melhor oportunidade. É que, às vezes, tenho tempos de espera propícios a alimentar o vício da leitura e perco-me, impaciento-me, desespero, se não tenho algo à mão para ler. Se houver que ler, nem dou pelas demoras.
Verifiquei um facto bem curioso: peguei num romance de Aquilino Ribeiro, li duas páginas e pareceu-me interessante, quiçá divertido, fazer uma experiência: pedir a um jovem (de mais de vinte anos) que lesse dois parágrafos e perguntei-lhe o que percebeu: Nada!
A forma de falar (de escrever) reflectida nas obras de Aquilino (que contém termos que nem sequer constam dos dicionários comuns), embora repleta de termos usuais, naquela época, é imperceptível para os jovens de hoje. Alguns termos até têm conotação com significados completamente diferentes e opostos. Estamos a falar de obras de há cerca de 4 ou 5 décadas… Diverti-me com a experiência, mas não acho graça à dificuldade de comunicação, resultante, entre gerações tão próximas…
Camilo nunca fez parte dos meus autores preferidos. Não sei explicar porquê. No entanto tomei-me de curiosidade pelas “Memórias do Cárcere”. Gostei de ler, exactamente porque se trata da descrição de factos reais. E, no entanto, apesar de ser um autor de há mais de um século, não me pareceu de tão difícil compreensão como Aquilino. Hei-de repetir a experiência.
Há dias alguém comentava acerca de dificuldade em publicar, neste país. Talvez seja bom que as Editoras comecem a perceber que a diversidade de escolha não existe e que isso lhe prejudica o negócio.
E pronto. Antes de começar a escrever tinha 3 ou 4 temas, bem pesados, para abordar, mas decidi-me por uma coisa leve. Amanhã será pior. Fica a ameaça…