2006/01/06

Iberidiotices!

O Jumento publica, exactamente com o mesmo título, este post que não podia deixar de transcrever...
É por estas e por outras (para acabar com estas e com outras) que eu defendo a valoração da abstenção)
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O caso Iberdrola é apetitoso por espelhar a forma como se comporta a nossa classe política. A presença de Pina Moura, e a forma como isso sucedeu, mostra-nos que a corrupção ética é transversal a uma boa parte dos nossos políticos. Mas há duas outras facetas que estão a ser esquecidas.
A primeira refere-se a um nacionalismo, idiota, que nos leva a ficar nervosos sempre que a Espanha compra o que quer que seja em Portugal, não porque não soubemos adoptar regras adequadas para defender os nossos interesses, e quando se diz "nossos interesses" entenda-se o de todos os portugueses e não os dos chamados "centros de decisão" que estão muito pouco preocupados com o país.
Uma boa parte dos políticos e jornalistas, que gritam em defesa dos centros de decisão nacional, vão fazer as comprar ao El Corte Ingles, onde os produtos são mais caros do que os do Continente, mas apresentam uma qualidade muito superior aos vendidos nos hipers de Belmiro de Azevedo, são vendidos por funcionários mais bem pagos e preparados, profissionalmente, do que os do mesmo Belmiro, e onde o tempo de espera nas caixas é inferior. E, por estas alturas, já estão a marcar as férias, na neve dos Pirinéus espanhóis, para onde vão na esperança de se cruzarem com o rei Juan Carlos, ou com uma qualquer infanta, ou ao menos uma prima afastada na mesma pista de neve.
Por outro lado, venderam-se as empresas públicas, não raras vezes por um valor inferior ao real, o que justifica as mais-valias nos negócios a que temos assistido, e agora não queremos assumir as consequências. E lá vem o discurso dos centros de decisão nacionais, dias depois de termos andado a fazer xixi nas calças com medo de a Autoeuropa fechar as porta. Alguém se propôs construir uma Autoeuropa com um centro de decisão algures na Quinta da Marinha? Não, por ali os centros de decisão, em vez de terem preparado a integração de Portugal na Europa, decidiram a melhor forma de embolsarem as ajudas comunitárias para agora distribuírem pelos mais pobres as consequências de uma crise económica de que são eles os responsáveis.
Os que agora choram pela manutenção dos centros de decisão em Portugal, são os mesmos que, sempre que podem, vendem as suas empresas a capitais estrangeiros e para quem os centros de decisão não são mais do que verdadeiras centrais de corrupção que, beneficiando do proteccionismo, assente num ruralismo salazarista, mais não querem do que o exclusivo da exploração dos recursos nacionais, sem regras nem princípios.
São os mesmos que, décadas atrás, não queriam estações de comboios nalgumas localidades, para que os trabalhadores não partissem; são os mesmos que desviaram uma parte significativa dos fundos comunitários, são os que estão a beneficiar de uma violenta transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos, são os mesmos que nomeiam governantes incompetentes, são os que estão dispostos a vender o país desde que os lucros sejam deles.
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Já agora e a propósito, transcrevo também o comentário de "Compadre Alentejano":
"Em 1970, aquando da criação do Colégio Ouriquense (não havia qualquer escola secundária), e os meninos ricos iam passar o tempo para bons colégios de Lisboa ou de Tomar, tivemos uma grande oposição desses pais, pois, diziam eles, que se corria o risco do filho de qualquer pastor atingir um patamar de estudo superior aos dos seus filhos! Isto brada aos céus. E posso concluir, que apesar dessa forte oposição,conseguimos levar o Colégio avante! Tendo mais tarde passado a escola secundário."
Nas questões concretas, nos casos e problemas concretos (aqueles a que ninguém liga, para os quais ninguém olha) é assim que se comportam os nossos "ilustres"...